"O discurso do não há alternativas, de que não
vale a pena votar, o facto de haver mais de 50% de abstenção é um sinal claro
de que essa consciência ainda não está tomada. Sucessivos responsáveis
políticos têm conduzido o povo português a este estado de alguma letargia e de algum
desacreditar. Isso não é inocente", sublinhou António Lima Coelho, em
declarações à Lusa à margem das comemorações do 31 de Janeiro de 1891 no Porto.
Para o responsável, quando "o povo português
se consciencializar de que está nas suas mãos a mudança de que o país precisa,
pode bem ter a certeza que os militares, e os sargentos em particular, estarão
ao seu lado a defender os valores democráticos, da liberdade e os valores e
princípios inscritos na Constituição".
"É importante que haja uma revolução e essa
revolução tem de começar pela revolução das mentalidades", sublinhou,
apontando a necessidade de defesa de "uma pátria soberana e
independente".
Para Lima Coelho, "é muito grave" que
"deputados da Nação", nomeadamente os dos "partidos que apoiam o
Governo", digam que é preciso recuperar a soberania.
"Eles próprios admitem que puseram em causa a
soberania, isto não é uma atitude ligeira. Temos de despertar para isso",
afirmou.
O presidente da ANS avisou que as armas
"letais" dos militares não podem ser usadas "levianamente nem
com um espírito de aventureirismo", mas defendeu não poder "baixar os
braços" nem "desistir de procurar as medidas que podem levar à
mudança".
"Isso é com a força dos cidadãos, com a sua
consciência. Por isso temos de fazer e tudo o que tivermos de fazer para o
despertar de um povo que está um pouco letárgico", frisou.
A situação profissional dos sargentos também
preocupa a associação que, juntamente com a Associação de Praças e a Associação
de Oficiais das Forças Armadas, agendou para o dia 13 de Fevereiro, no Largo de
Camões, em Lisboa, uma iniciativa pública para "decidir o que fazer mais
adiante".
"Nos discursos oficiais, os responsáveis
militares e políticos gostam muito de dizer que os sargentos são a espinha
dorsal das Forças Armadas. Com o tratamento que nos vão dando, é uma espinha
dorsal cheia de escolioses e problemas", sustentou.
O problema, referiu, é que "os sargentos
sempre foram votados a uma situação de esquecimento" e existe "quase
que uma xenofobia classista" relativamente à classe, não sendo clara a sua
definição de carreira ou reconhecida a sua capacidade académica.
"Depois, vemos que estes cortes que mais uma
vez o Governo impôs vêm afectar sobretudo as classes mais baixas das
hierarquias, nomeadamente praças e sargentos. Mais uma vez a matriz ideológica
do Governo vem retirar a quem menos tem", criticou.
Explicando que o dia 31 de Janeiro, comemorativo da
primeira tentativa de implantação da República em Portugal, é também comemorado
como o Dia Nacional do Sargento, Lima Pereira identificou "paralelismos
por demais evidentes" com a actualidade.
"Há 123 anos, por força do ultimato imposto
pela coroa britânica, a nação estava de joelhos perante potências estrangeiras,
o país estava numa situação de pré-bancarrota por incapacidade dos governos que
se iam alternando entre os partidos regenerador e progressista. Para além
disso, a situação do povo era de miséria, a insatisfação era total, impunha-se
uma mudança profunda", recordou.
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