30 de dezembro de 2014

COTOVELO DA FORMIGA, ALGUNS SENHORES EM PORTUGAL, SÃO DE MEMÓRIA CURTA E, ASSIM FICA POR AQUI REGISTADO, O QUE PODEM SEMPRE LER E RELER.

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Como evitar o salvador de pacotilha

O País está anémico, esvaído, descrente, dividido. Se não vir alternativa entregar-se-á ao primeiro salvador de pacotilha. Aparecem sempre.
Então que me dizes à conversa de Natal do Primeiro-ministro? Tudo vai melhorar, mais um esforço, Portugueses, e venceremos a crise e, claro, a culpa da crise é dos socialistas! Tito esboçou um sorriso tolerante perante a ingénua artimanha eleitoral, mas respondeu assertivo: o Governo acha que o optimismo na mensagem basta para animar a economia.
Esta não arranca e a ameaça de deflação europeia é real; o desemprego, descontados os disfarces estatísticos e a emigração, não nos deixa; as exportações avançam mais devagar do que há dez anos atrás; as desigualdades afundaram-se; a pobreza aumentou, agora exposta nas cidades, grandes e pequenas. E para cúmulo, a Comissão Europeia censura-nos um salário mínimo de 505 euros, por achar muito e propõe impostos sobre as frágeis compensações sociais da crise. Disparates, estão longe da realidade, não admira! Agora que o ministro CDS da Segurança Social venha criticar o “risco moral” da acumulação de subsídios em famílias com muitos membros a cargo, numa capitação mensal de 89 euros, aí, meu caro, das duas uma, ou o homem está mal informado, ou foi amolgado pela ideologia.
Todavia, prossegue Tito, os sinais externos são positivos: o petróleo abaixo dos $60 dólares pode conduzir a uma poupança de cerca de três mil milhões. Bem falas, Tito, mas a verdade é que mal sentimos essa descida, embora ansiosos à sua espera, para ocupar as autoestradas do Sócrates. Em Espanha os preços ao público respondem de imediato, entre nós é um mistério saber quem fica com a diferença em períodos de transição. E falta saber a quanto vai ascender o tal imposto verde, que nem por verde deixa de ser imposto.
Sim, responde Tito, a descida pode ser conjuntural e durar três anos, como dizem especialistas. Mais uma razão para aproveitarmos o tempo. É bom que se diversifiquem as fontes de abastecimento, como fez a GALP em contrato de longo prazo com uma fornecedora do Texas, provavelmente de gás do xisto. Também devemos aproveitar, sem histerias nem exageros, a crise do turismo para países árabes. Bem como reorientar o turismo europeu que já viu tudo e esteve em toda a parte, para turismo rural e cultural, mais calmo e mais disseminador de benefícios, aproveitando clima e geografia com que a natureza nos abençoou. E não seria mau regressarmos a medidas dos anos sessenta e setenta, atraindo remessas de novos emigrantes, antes que elas se percam lá fora em colocações especulativas. Temos muito trabalho pela frente, mas não vejo o Governo a desenhar programas, apenas a anunciar, sempre a anunciar, injecções de 4 mil milhões para o ano que vem. Será bom que acorde, depois das promessas nunca cumpridas, de usar os novos fundos europeus ainda em 2014. E que se apresse, não prometa mais o que não cumpre.
Pois é, Tito, estes mimos são de fortuna, pouco têm a ver com o Governo, embora ele goste de se apropriar, para o chapéu, de penas de perdizes caçadas por outros. E se algo correr mal, dirá ainda que a culpa foi do Sócrates. Deveis estar preparados para a mistificação, responde Tito, mas o vosso objectivo é outro, é ganhar a confiança do povo. Não tereis passadeira vermelha até ao poder e bem pode acontecer que ele vos fuja nestes longos nove meses até às eleições. O caminho será pedregoso. Tereis que vos preparar: começar por um programa, sem falsas esperanças, nem nuvens imaginárias. Escolher uma equipa vasta da qual saiam os futuros governantes. Não serão fáceis de recrutar, dada a penúria remuneratória. Gente nova aguenta mais a modéstia e a agressão dos cargos e encargos. Mas alguns mais experientes não podem faltar. Uma mistura convincente. Com programa e equipas formadas deve-se fazer como Mouzinho da Silveira na Ilha Terceira. Em meses preparou leis que valeram para décadas, a primeira grande reforma da administração territorial e da fiscalidade fundiária. Quando o poder vos chegar ao alcance, começareis, logo, a tomar as medidas que se impõem. Eis por que é tão importante o próximo meio ano: as propostas devem ser claras, nunca prometer o que se não pode cumprir, tentar investir agora em estudo e discussão para poupar tempo na execução; saber como pensam os outros, os que vão receber ou cumprir a lei, para que não haja surpresas nem resistências precoces. Mais vale saber com o que se conta, que ser surpreendido pelo imprevisto. É por isso que deveis seguir a grande tradição americana de reler tudo o que os antecessores escreveram. Alguém terá que ter a paciência de revisitar anteriores programas de governo, dos adversários e também os vossos, para prevenir colagens, contradições e embaraços; reler mensagens presidenciais e de primeiros-ministros, ler os poucos livros que entre nós se escrevem após a saída do governo, como o do Álvaro, reler sobretudo as resoluções do conselho de ministros e do parlamento, repositórios de estratégias políticas. E não se esqueçam de reler o memorando, seus relatórios e de acompanhar os que faltam. Esta tarefa não será apenas para o Moedas do futuro governo, é para todos os que a ele aspiram. Tito respirou fundo, cansado e um pouco enleado pela arrogância da lição de prática política e concluiu: o objectivo de um governo novo não é aproveitar o descontentamento, mas antes criar confiança e gerar energia. O País está anémico, esvaído, descrente, dividido. Se não vir em vós a alternativa entregar-se-á ao primeiro salvador de pacotilha. Aparecem sempre.
Professor catedrático reformado

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